sábado, 17 de março de 2012

ZERO


As cores que este espelho sujo reflecte
Não dizem quem sou.
Mostra apenas os meus sonhos,
Que um dia alguém sujou.

No meio dos estilhaços, fiquei cego.
Cortei-me vezes sem conta,
Sangrei tudo o que havia para sangrar
De dentro do meu ego.

Já não era eu!
Era alguém mutilado pelos sentimentos
De alguém, que eu não sabia o nome,
De alguém, a que deram o nome,
Ninguém.

Como pude, eu, ter sido vítima de mim?
Julguei verdades que me escorriam pelos lábios,
Com aquele sabor amargo, que só o sangue tem.
Pensei em mentiras que um dia tinha visto
Mas agora, vejo tudo vermelho.
Eu sou ninguém!

E que ninguém sou eu?
Se sou ninguém é porque sou algo,
Mas ninguém não é nada,
Logo é alguma coisa.
Por muito sangue que volte a cair de mim
Não deixarei de ser algo.
Por todos os espelhos que parti
Não vou deixar de sentir algo.
Algo é nada.
Mas se nada é alguma coisa,
Então eu um dia poderei ser alguém,  que ainda não foi nada.


Tiago Mindrico
17/03/2012